quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A Índia do Ganesha


Já tinha visto várias fotos deste “Deus com cabeça de elefante” mas não sabia de onde vinha nem o que representava. Na Índia fui basicamente inundada por imagens, bibelots, altares e estampagens de “Genesha”, o "Senhor dos obstáculos” para os hindus.

Fui pesquisar sobre este ícon da cultura indiana e descobri histórias bastante interessantes, algumas delas a roçar a criatividade extrema! Ora começamos por seu nome: “Ga' significa intelecto e 'Na' simboliza sabedoria. Ganesha é então considerado o mestre do intelecto e da sabedoria, frequentemente representado como uma divindade amarela ou vermelha, com corpo de ser humano, com uma grande barriga, quatro braços e a uma cabeça de elefante, montado num rato. Está habitualmente sentado, com uma perna levantada e curvada por cima da outra.


Diz a Wikipédia que: “cada elemento do corpo de Ganesha tem seu próprio valor e seu próprio significado:
  • A cabeça de elefante indica fidelidade, inteligência e poder discriminatório;
  • As orelhas abertas denotam sabedoria, habilidade para escutar as pessoas que procuram ajuda e para refletir sobre as verdades espirituais. Elas simbolizam a importância de escutar para poder assimilar ideias. Orelhas são usadas para ganhar conhecimento. As grandes orelhas indicam que quando Deus é conhecido, todo conhecimento também é;
  • A tromba curvada indica as potencialidades intelectuais que se manifestam na faculdade de discriminação entre o real e o irreal;
  • Na testa, o Trishula (um Tridente) é desenhado, simbolizando o tempo (passado, presente e futuro) e a superioridade de Ganesha sobre ele;
  • A barriga de Ganesha contém infinitos universos. Simboliza a benevolência da natureza e equidade, a habilidade de Ganesha de sugar os sofrimentos do Universo e proteger o mundo;
  • A posição de suas pernas (uma descansando no chão e a outra em pé) indica a importância da vivência e participação no mundo material assim como no mundo espiritual, a habilidade de viver no mundo sem ser do mundo.
  • Os quatro braços de Ganesha representam os quatro atributos do corpo que são: mente, intelecto, ego e consciência condicionada. O Senhor Ganesha representa a pura consciência - o Atman - que permite que estes quatro atributos funcionem em nós.”


Ganesha é o símbolo das soluções lógicas para os problemas da vida; é o "Destruidor de Obstáculos" e, consequentemente o “Deus da Fortuna e da Prosperidade”.

O seu simbolismo está igualmente ligado a esta imagem, que já conhecia mas não fazia ideia do que significava:


Ela representa “Om”, que é o mantra mais importante do hinduísmo e outras religiões. É considerado o corpo sonoro do Absoluto; é o som do infinito e a semente que "fecunda" os outros mantras. O Om faz lembrar Ganesha pela sua forma torneada e é por isso encarado como a encarnação corporal do Cosmos inteiro.


Um mantra é como que um cântico; uma evocação. Neste caso o seu som é formado pelo ditongo das vogais “a” e “u”, e a sua nasalização representada pela letra “m”. Por isso é que às vezes aparece designado por “Aum”. Estas três letras correspondem aos três estados de consciência: vigília, sono e sonho.


Na Índia, o mantra Om está em todas as partes. Hindus de todas as etnias, castas e idades conhecem perfeitamente o seu significado. Ele ecoa em todos os templos e comunidades a qualquer hora do dia. Lembro-me de uma manhã ter acordado às 5 horas porque o meu sono foi interrompido por um “Ommmmmmmmm” que ecoava de uma mesquita como que chamando os hindus para a oração da manhã!


É engraçado descobrir que apesar de tantas diferenças, há similaridades nas religiões. A carga espiritual associada é sempre elevadíssima e o sentimento de paz é também uma constante. Ao evocar o “Om” na aula de yoga a que fui, algures num beco de Udaipur, senti-me bem; como se libertasse um grande peso. E não fosse o facto de às 6 da tarde ter apenas uma caneca de chá preto no estômago e estar a morrer de fome, quem sabe não teria atingido o estado de vigília? Nunca saberei…


"Com Om vamos até o fim o silêncio de Brahman (o Absoluto). O fim é imortalidade, união e paz. Tal como uma aranha alcança a liberdade do espaço por meio de seu fio, assim também o homem em contemplação alcança a liberdade por meio do Om."

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