quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Zona de Conforto

Sou das primeiras pessoas a chegar à minha empresa pela manhã, pelo menos a avaliar pelos lugares vagos no parque de estacionamento. Tenho a tendência de pôr o carro sempre na mesma rua. Contudo, nunca ponho no mesmo lugar; mais à frente ou mais atrás conforme me apetece, de frente ou de traseira, conforme a preguiça do dia.

Já reparei que muito dos meus colegas têm lugares fixos, mais perto da porta, debaixo das árvores que dão mais sombra, ou qualquer outra razão que os faz achar aquele espaço perfeito para deixar o seu veículo.

Há já uns dias que deixo o XAzinho (para quem não conhece é o meu carrinho) num lugar porreiraço, debaixo de uma àvorezita que dá uma sombra jeitosa. Hoje à hora de almoço, quando regressávamos ao local de trabalho, olhei para o parque e comentei, já não sei porquê, que tinha o carro à sombrinha. Ao que uma das minhas colegas respondeu em tom irónico:
-” Pois pudera, que a menina Cristina há já uns dias que me rouba o lugar!”.
Ri-me com ar de criança de quem fez asneira, ao que ela reagiu:
-”Não se ria, que não acho graça nenhuma. Já no outro dia estive para lhe chamar a atenção.”
Gelei. Fiquei vermelha. Nunca pensei que dissesse tal coisa! Olhei para os outros colegas que faziam ar de “tás tramada!” e respondi:
-” Então mas há lugares marcados?”
Um dos colegas mais brincalhões respondeu:
-“Não há lugares marcados, excepto os dos Chefes, os dos Directores, os dos Administradores e o da Dra.X!”
-“Todos sabem que aquele lugar é meu, ponho lá o carro desde que a empresa mudou para aqui!” – Respondeu a Dra. X indignadíssima!
Eu, confesso que um pouco tensa (nunca tinha visto a Dra.X enfadada daquela forma!) e ao mesmo tempo a fazer um esforço brutal para não me rir, disse:
-“Ok Dra., fique descansada que nunca mais lá ponho o carro, mas não se esqueça de acrescentar no Manual de Acolhimento aos novos colaboradores que o lugar debaixo daquela árvore é exclusivo para sua utilização!”
Foi a risada geral de todos os colegas e até um sorrisinho amarelo da Sra. Dra.

Salvo uns segundos de pequena tensão nada mais a declarar. Conto aqui esta situação, apenas para chamar a atenção daquilo que chamamos de “nosso”. O Ser Humano tem uma necessidade inata de procurar o conforto em tudo o que faz, de saber que se sente bem, de que é aquilo que quer, de que é ali o seu lugar. Contudo, o limiar entre a procura da zona de conforto e o sentido de pertença é muito ténue. Torna-se quase instintivo: pus o carro ali uma vez, e outra, e outra…só gosto de pôr o carro ali, e assim faço daquele o meu lugar para sempre, venha quem vier! E isto acontece em todas as situações da nossa vida, até nestas mais quotidianas traçamos este caminho sem nos apercebermos.

Tenham cuidado, pensem nas pequenas coisas que fazem todos os dias, não estejam vocês a interferir na Zona de Conforto de alguém!




(Imagem:www.weblogcartoons.com)

5 comentários:

白色天使 disse...

Olá Cristina!
Obrigado pelo comentário. Mas ainda não regressei. Estou com uma entorse no pé [tem um nome esquisito que agora não me consigo lembrar, mas sei que é de grau 2] e ainda cá ando por terras distantes.

Gostei da sua história. Por acaso já tive assim uma história parecida.. Bem, nosso não temos nada...

Um beijinho

Anónimo disse...

Hmmm... Agora estou curiosa acerca do lugar que terás escolhido hoje para estacionar o teu carrito... ;)

Piolha disse...

Parece que não me conheces Susanolas! Sou politicamente correcta e faço tudo para que todos se sintam bem....obviamente que escolhi outro lugar, mas a "sacaninha", hoje veio mais cedo, mesmo naquela de assegurar os metros que tomou como seus!

É uma espertalhona, a sorte dela é que é porreiraça senão....

Anónimo disse...

Epah... esse calculismo é assustador... não gosto da tua colega!!! Bem feita para ela que teve uns diazinhos sem o seu lugar!!!

Anónimo disse...

Se fosse eu não punha lá o carro, escolhia outra arvore de outra dra. qualquer menos implicativa mas fazia questão de lhe deixar no seu lugar tão valioso umas prendinhas sei lá pioneses ou algo similar. E como me sinto generoso fazia-o talvez uma vez por semana nos próximos 6 meses...