Zacarias: The flying cat!

Quando fui buscar este meu afilhado peludo, não fazia ideia do que estava a arranjar!

Que o bicho era hiperactivo, isso já se sabia; que o bicho tinha que se agarrar a tudo, também já se sabia; que o bicho tinha “raivinha de dentes” como as crianças, também já tínhamos sentido na pele (literalmente!). Mas as suas capacidades aeronáuticas não eram conhecidas. Estiveram escondidas nos 5 meses da sua vida, e eis que uns dias antes de eu ir de férias descansada, o bicho dá asas a esta sua habilidade!

Zacarias, o Gato Voador, resolve a abrir a janela da cozinha de sua casa. Zacarias, o Gato Curioso, vê uma toalha que descaradamente se balança à sua frente, estendida na corda. Zacarias, o Gato Louco, atira-se para a toalha em movimento, na ânsia de fazer não sei bem o quê!

Et voilá, gato no quintal da vizinha três andares abaixo! Mas…indescritivelmente, sem uma única mazela! Confuso de certeza e muito muito assustado! A vizinha ouviu barulho e foi ver o que acontecera. Deu de caras com um gatinho, pequeno, bem tratado e a pedir festinhas. Achou estranho estar ali um gato; de onde teria vindo? Os muros são altos e as traseiras são fechadas…só podia ter vindo de cima. Depois de lhe dar leite foi perguntar à vizinha do primeiro andar, a única que tinha gatos no prédio. Não era dela. E como já era quase meia-noite não perguntou a mais ninguém. Teve então uma ideia fabulosa, de uma sensibilidade magistral: esperar que chegue o dia seguinte para perguntar aos outros vizinhos e deixar o gatinho nalgum canto da casa? Não! Claro que isso não é uma ideia fabulosa e de uma sensibilidade magistral! A ideia da Senhora Dona vizinha foi pôr o gatinho à porta da rua….maravilhosa hãm? Gato pequeno, assustado, sem indícios de ser vadio está mesmo a pedir uma noite bem passada à porta do prédio! Adoro estas pessoas sem um dedo de testa!

Até aqui, isto é o que pensamos que aconteceu ao nosso pequeno herói, que para um gato não foi nada agradável. A restante parte da história é sem dúvida um pesadelo bem pior, que não quero imaginar se aconteceu desta ou de outra maneira. Pansamos que o mais certo é o nosso bichano ter-se assustado com algo que nunca vira na rua, ou seja TUDO: um cão, um carro, qualquer coisa que o fez correr para bem longe dali!

Certo é que foi encontrado por milagre a quase dois quilómetros de distância após ter sido atropelado. Uma senhora recolheu-o, levou-o para casa e tentou tratar dele. Como percebeu que o seu estado precisava de cuidados especiais, levou-o ao veterinário. Diagnóstico: o maxilar partido com uma infecção enorme, o olho inchadíssimo e a orelha raspada. Prontificaram-se a tratar dele, porque perceberam que era gato de casa, ainda pequeno e que se tudo corresse bem iriam dá-lo a alguém. Isto sim são atitudes de pessoas! Bem hajam!

Consigo agora contar isto com alguma descontracção, mas na altura tudo pareceu um pesadelo! Quando na manhã seguinte ao “voo” pela janela o meu irmão me ligou a dizer que o nosso gatinho tinha fugido não quis acreditar. Ao saber o que a vizinha tinha feito fiquei com um aperto na barriga que não me largou um só segundo nos dois dias seguintes. Sabia que ele não estava bem; não me conformava em pensar que alguém, ao vê-lo pequeno e meigo iria recolhe-lo; só pensava que ele nunca tinha visto um carro, que o mais certo era estar assustadíssimo e perder a noção do caminho de casa e acabar atropelado. Procurámo-lo; corremos as ruas, os quarteirões; pusemos comida à porta de casa; espalha-mos fotos na esperança de alguém o ter visto na noite anterior. Cada gato que passava, cada miado que ouvíamos captava mais a nossa atenção, mas não…nenhum tinha a cauda roída ou a manchinha branca nas costas…

Ao segundo dia, fomos colocar fotografias mais longe de casa e tivemos a brilhante ideia de pôr também nos veterinários da zona. “Este gato desapareceu? Espere lá que eu acho que está cá desde esta manhã!” Sim! É o nosso Zacarias! Apareceu! Está aqui!

Continua…..